04/11/2021 . Notícia
A vacinação de crianças menores de cinco anos contribui significativamente para reduzir o adoecimento e morte por doenças imunopreveníveis — como poliomielite, sarampo, difteria, tétano e coqueluche — e é considerada uma das intervenções de melhor custo-benefício para a saúde infantil. Porém, disparidades na cobertura vacinal brasileira ainda excluem cerca de 20 milhões de crianças dos serviços de imunização de rotina.
Com este cenário em mente, a pesquisadora Patricia Boccolini desenvolveu, ao longo de 2021 e 2022, um projeto intitulado “O papel das mídias sociais, Programa Bolsa-Família e Atenção Primária em Saúde na cobertura vacinal de crianças menores de cinco anos no Brasil” — também chamado de Vax*Sim. A iniciativa da professora e pesquisadora da Faculdade de Medicina de Petrópolis (UNIFASE) contou com o apoio da Plataforma de Ciência de Dados aplicada à Saúde (PCDaS) em etapas relevantes do processo.
Considerando que a cobertura vacinal ainda é considerada baixa em determinadas circunstâncias e regiões do país, a equipe liderada por Patrícia buscou investigar e analisar dois fatores socioeconômicos que têm impacto nesta cobertura: o acesso à atenção básica em saúde, também chamada de atenção primária, e a atuação de programas sociais, como o Bolsa Família. “Nosso objetivo era compreender por que a cobertura vacinal vem caindo em nosso país, que tem tanta tradição na imunização de crianças”, resume Ronaldo Alves, pesquisador integrante do projeto.
Ao longo da pesquisa, que mapeou dados de todos os municípios brasileiros, a equipe constatou que existe uma grande desigualdade na cobertura vacinal. “Essa desigualdade está relacionada principalmente com o acesso à atenção básica”, explica Patricia. “Onde a atenção básica não chega, a queda da cobertura vacinal é mais acentuada”.
Projeto também conduziu análise de mídias sociais
Outro foco de atuação do Vax*Sim foi o monitoramento da rede social Twitter para analisar o que estava sendo publicado e comentado por brasileiros sobre o tema da vacinação. Para esta etapa, o projeto teve como parceira a plataforma Daoura, que utiliza Inteligência Artificial para monitorar manifestações de usuários de mídias sociais.
A equipe observou que, mesmo com a queda da cobertura vacinal no país, fala-se cada vez mais sobre o assunto no Twitter. “Desde dezembro de 2021, monitoramos tuítes sobre vacinação de crianças contra Covid-19. Os primeiros meses de monitoramento coincidiram com o momento em que esse debate estava em alta nas redes sociais por causa da pandemia”, explica Ronaldo.
Porém, na avaliação do grupo, o perfil oficial do Ministério da Saúde, que poderia ser um importante agente na comunicação e conscientização sobre o tema, deixou a desejar em relação ao seu engajamento. “Observamos que o perfil do ministério não está entre os usuários que mais participaram das conversas sobre o tema”, diz Ronaldo.
Dados como protagonistas da pesquisa
O Vax*Sim integrou a segunda chamada do Grand Challenges Explorations – Brasil: Ciência de Dados para melhorar a saúde materno-infantil, saúde da mulher e da criança no Brasil, aberta em 2020. Patricia havia participado, também, da primeira chamada voltada a pesquisadores brasileiros, realizada em 2018. Ela apoiou o BASIS (Breastfeeding Information System), um projeto liderado pelo pesquisador Cristiano Boccolini que avaliava o impacto de intervenções hospitalares de aleitamento materno na saúde infantil.
“Foi com o BASIS que comecei a trabalhar com grandes bases de dados e entender o que era possível desenvolver a partir delas”, relembra Patricia. “Era tudo muito novo para mim, que venho de outra área. Foi muito desafiador”. A experiência na primeira chamada possibilitou à pesquisadora entender o fluxo de trabalho com um grande volume de dados e perceber que seria possível analisar de forma integrada os diferentes sistemas nacionais de informação — e cruzar as diversas informações contidas em cada um.
O aprendizado se tornou um legado para o Vax*Sim, que utilizou dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) e do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), além de dados sociodemográficos de municípios, como população e cobertura de saneamento básico.