06/05/2024 . Notícia
No Brasil, muitas gestantes ainda precisam sair de suas cidades e percorrer grandes distâncias até estabelecimentos de saúde que ofereçam condições para a realização do parto e de atendimentos neonatais. O impacto destes deslocamentos para a saúde materno-infantil foi o tema de uma pesquisa apoiada pela Plataforma de Ciência de Dados aplicada à Saúde (PCDaS) que apresentou, recentemente, as suas conclusões.
Iniciado em 2021, o trabalho liderado por Valdemar Rodrigues de Pinho Neto, pesquisador e docente da Fundação Getúlio Vargas (RJ), foi batizado de “Acessibilidade aos serviços e a redução da mortalidade materna e infantil” (Assmi). Entre as conclusões, a pesquisa indicou que as distâncias percorridas para gestantes realizarem partos e cuidados neonatais aumentaram no período analisado — entre 2006 e 2017.
Além disso, os dados documentados confirmaram a hipótese de que os grandes deslocamentos apresentam impacto sobre a mortalidade infantil no Brasil. “Mortes infantis podem ser evitadas ao se reduzir as distâncias entre as mães e o local de parto ou atendimento neonatal”, afirma Neto.
Projeto integrou séries de pesquisas sobre a saúde materno-infantil
O Assmi fez parte da segunda chamada do Grand Challenges Explorations – Brasil: Ciência de Dados para melhorar a saúde materno-infantil, saúde da mulher e da criança no Brasil, aberta em 2020. A PCDaS apoiou outros seis projetos vinculados à segunda chamada, totalizando sete parcerias desde 2021, além de também ter apoiado uma iniciativa da primeira chamada, aberta em 2018.
A chamada atual foi apoiada pela Fundação Bill & Melinda Gates; pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações; pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e pelo Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (Decit/SCTIE/MS).
Além de documentar a distância percorrida pelas gestantes, o Assmi também analisou a disponibilidade de recursos físicos e humanos voltados para o atendimento ao parto e cuidado neonatal na região do município da gestante.
O objetivo principal foi contemplado: avaliar o efeito das distâncias percorridas sobre a saúde do recém-nascido, com atenção particular para o impacto na mortalidade infantil ocorrida em até um ano de vida.
“A partir dos dados vinculados, observamos que o percentual de gestantes que saem do seu município de residência para ter o filho em outra cidade passou de 23% para 31% entre 2006 e 2017”, diz Neto. “Além disso, as distâncias percorridas aumentaram, em média, de 48 km para 59 km nesse período. Ou seja, trata-se de fato de uma distância substancial que algumas mães brasileiras estão sujeitas a percorrer”.
O pesquisador reforça que o trabalho encontrou desigualdades regionais relevantes quando se trata das distâncias intermunicipais percorridas pelas gestantes. “As distâncias estão associadas por características socioeconômicas e demográficas, bem como fatores de risco das gestantes e dos recém-nascidos”, explica.
A pesquisa também encontrou algumas evoluções no período analisado (2006-2017). A mortalidade infantil, por exemplo, teve uma leve redução; e a infraestrutura física e de recursos humanos para atendimento se tornou, em média, mais próxima das mães ao longo dos anos. “Mesmo assim, é preciso lembrar que as mortes neonatais por causas evitáveis ainda representam a maior parte dos casos de mortes infantis no Brasil”, diz Neto. “E, mesmo com as distâncias em média menores, ainda se observa uma grande escassez de infraestrutura para atendimento no país”.
Pesquisa utilizou bases de dados diversas
Durante o trabalho, Neto e a equipe de pesquisadores do Assmi utilizaram dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) e do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). “Combinando estes dados, foi possível identificar os nascimentos que resultaram em óbito infantil no Brasil”, explica o pesquisador.
O SINASC também foi importante para fornecer a localização geográfica dos municípios de residência das mães e dos estabelecimentos de saúde nos quais elas realizaram parto. “Com base nas informações de latitude e longitude, foi possível recuperar os trajetos realizados por essas mães e computar as distâncias percorridas por elas até o local do parto”, diz Neto.
Para completar, a equipe ainda utilizou dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) para investigar as distâncias entre os municípios de residência das mães e os hospitais com certas características de infraestrutura e de serviços de atendimento voltados ao parto naquela vizinhança.
Ao lidar com uma grande quantidade de dados, provenientes de diferentes sistemas de informação, o Assmi contou com o suporte e a experiência da equipe da PCDaS. “Todo esse trabalho, realizado em um período relativamente curto, só foi possível com o apoio da Plataforma”, diz Neto. “A utilização dos dados pré-tratados tornou nossas atividades muito mais focadas no objetivo principal da pesquisa. Em vez de dedicar um tempo substancial para a limpeza e construção das bases de dados, o suporte da PCDaS nos permitiu partir de uma base de dados já trabalhada”.
Para Neto, a parceria com a Plataforma não só acelerou o desenvolvimento da pesquisa em si, como também conferiu maior credibilidade a ela, por conta dos dados utilizados no projeto. “A equipe que trabalha com as bases de informação é composta por programadores e pesquisadores da área da saúde que realmente entendem dos dados brasileiro neste campo”, conclui.
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