Descrição
De acordo com o resumo do relatório do Intergovernmental Panel on Climate Change para o ano de 2023 as atividades humanas, principalmente através das emissões de gases de efeito estufa, têm causado o aquecimento global, gerando aumento da temperatura da superfície global acima de 1,1°C nos anos 2011-2020, quando comparando-se o registrado em 1850-1900. As emissões de gases com efeito estufa continuam a aumentar, com contribuições desiguais e contínuas decorrentes do uso insustentável de energia, da terra, estilos de vida e padrões de consumo e produção em todas as regiões.
Segundo o mesmo relatório, é provável que o aquecimento exceda 1,5°C durante o século 21 e se torne ainda mais difícil conseguir limitar o aquecimento abaixo de 2°C, pois existem lacunas entre as emissões projetadas e as políticas de emissões implementadas, assim como os fluxos financeiros necessários para enfrentar as mudanças climáticas. Sendo assim, cada incremento no aquecimento global intensificará riscos múltiplos e simultâneos, tanto para os ecossistemas, como para os humanos.
Dentre os riscos mencionados no documento, no curto prazo, incluem um aumento da mortalidade e morbidade humana relacionada com o calor, doenças transmitidas pelos alimentos, pela água e por vetores, desafios para a saúde mental, inundações em cidades, regiões costeiras e baixas, perda de biodiversidade nos ecossistemas terrestres, de água doce e oceânicos, além de uma diminuição na produção de alimentos em algumas regiões. As alterações relacionadas com a criosfera em termos de inundações, deslizamentos de terra e disponibilidade de água têm o potencial de levar a consequências graves para as pessoas, as infra-estruturas e a economia na maioria das regiões montanhosas. O aumento previsto na frequência e intensidade de fortes precipitações aumentará as inundações locais geradas pela chuva.
Diante desse cenário, tem-se ainda observado a expansão geográfica de micro-organismos e vetores para novos territórios, uma vez que temperaturas mais quentes em regiões antes mais frias tem tornado isso possível, expondo as espécies a doenças até então desconhecidas em habitats específicos. Eventos climáticos extremos mais frequentes, incluindo ondas de calor, secas e inundações, criam circunstâncias onde os micro-organismos infecciosos existentes multiplicam-se e surgem novas infecções. Além disso, em muitas regiões, as inúmeras consequências das alterações climáticas impulsionam a migração humana intranacional e internacional em massa, o que perturba as infra-estruturas regionais de cuidados de saúde e os habitats de micróbios, vetores e reservatórios animais (https://doi.org/10.1016/j.ijwd.2020.07.005).
Embora ainda não se conheça todas as doenças sensíveis ao clima (DSC), Souza e colaboradores investigaram o conhecimento existente acerca das DSCs e dos principais impactos da variação climática sobre a saúde, fazendo um recorte específico sobre o Brasil. Dentre as DSCs levantadas nesse estudo, as doenças infecciosas descritas foram, principalmente, dengue, malária, chikungunya, zika, febre amarela, leishmaniose, cólera e leptospirose (https://doi.org/10.26633/RPSP.2018.85). Além dessas infecções, a febre maculosa e a doença de Lyme são outras infecções que podem ser afetadas, uma vez que os seus vetores apresentam maior sobrevivência e expansão geográfica com as mudanças climáticas (https://doi.org/10.1016/j.ijwd.2020.07.005).
Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho será utilizar a base de dados Sistema de Informações Hospitalares do SUS – SIHSUS, juntamente com dados climáticos obtidos da constelação de satélites das famílias Sentinel do sistema Copernicus, com o intuito de avaliar o impacto das mudanças climáticas sobre as internações por doenças infecciosas sensíveis ao clima no SUS para todo o território do Brasil e realizar previsões para os próximos anos utilizando ferramentas do Aprendizado de Máquina.