Descrição
Este trabalho parte da constatação de dois fenômenos importantes: o primeiro, relativo aos fortes impactos ocasionados pela pandemia de Covid-19 nas esferas sanitária, política, social, econômica e comunicacional do mundo em geral e, em particular, do Brasil. O segundo, relacionado aos processos de reconfiguração nas últimas décadas da práxis jornalística diante da concorrência com novos atores que produzem, fazem circular e consomem notícias das plataformas digitais em escala, velocidade e alcance inéditos.
Essas transformações trouxeram desafios teóricos, epistemológicos, éticos e profissionais para os pesquisadores do campo da Comunicação e Saúde, tornando ainda mais urgente a reflexão sobre temas tais como o combate à desinformação, os sentidos que circulam nesses enunciados, as disputas discursivas e as novas dinâmicas de produção jornalística, tanto a de fontes profissionalizadas formais como informais, nos quais conceitos como autoridade, credibilidade e confiança são centrais.
Tendo como referência esse conjunto de questões, o objetivo deste estudo é investigar como as reconfigurações da práxis jornalística ocorridas diante da concorrência com os novos atores produtores, circuladores e consumidores de notícias das plataformas digitais impactaram a cobertura jornalística sobre a vacina contra a Covid-19.
Visando a mapear e analisar qualitativamente a dinâmica de como acontece atualmente o debate público na esfera digital online e algorítmica, a plataforma escolhida foi o Twitter. Sob a perspectiva dos estudos digitais da análise de redes sociais (ARS), consideramos as inter-relações e conexões (arestas) entre usuários (nós), em um corpus formado pelas postagens contendo a palavra-chave “vacina” e “vachina”, relacionada à Covid-19, (re)circuladas na “Twitteresfera”, associados aos veículos: oglobo.globo.com e g1.globo.com; e cotejadas com os textos de capas online de O Globo, no recorte temporal entre 1° de julho de 2020 e 30 de junho de 2021.
Para novos olhares, adequados a problemas contemporâneos de nossa sociedade digital, também podemos lançar mão de novas metodologias, métodos digitais aliados a tradicionais, contribuindo para examinar “velhas” disputas e relações de poder, entre o jornalismo e os “novos” agentes das redes sociais.
No campo da Comunicação e Saúde, a compreensão desses processos e reconfigurações permitirá uma atuação mais qualificada das instituições de jornalismo e de saúde no enfrentamento a novas crises sanitárias e, para o jornalismo, auxiliar no entendimento sobre a crise de credibilidade pelo qual atravessa.