01/07/2023 . Notícia
A Plataforma de Ciência de Dados aplicada à Saúde (PCDaS/Icict/Fiocruz) iniciou, neste mês de julho, o apoio que será oferecido — inicialmente por dois anos — ao projeto Saúde Mental: Ciência de Dados para a Saúde Pública Digital.
A parceria se dá no âmbito do Programa Fiocruz de Fomento à Inovação (Inova Fiocruz) e foi contemplada no Edital Inova COVID-19-longa e recuperação pós-pandemia, tendo como escopo os eixos “desafios para os sistemas e serviços de saúde: estudos com foco no fortalecimento do SUS e da proteção social para lidar com as consequências da pandemia” e “estudos sobre as consequências da COVID-19 no que concerne ao tema das violências e à saúde mental dos diferentes grupos populacionais”.
Coordenado por Raquel De Boni, pesquisadora sênior em Saúde Pública no Icict/Fiocruz, a iniciativa visa compreender, por meio do levantamento e análise de dados, as consequências da pandemia de COVID-19 na saúde mental da população brasileira. “Nosso trabalho vai ser importante porque há uma expectativa geral de que a saúde mental vai piorar no mundo todo após a pandemia”, afirma De Boni. “Alguns autores dizem que o aumento das consequências para a saúde mental ocorrerá em cinco ou dez anos por conta das mudanças de longo prazo. Ainda não sabemos o impacto, então nossa pesquisa é necessária e muito inovadora”, completa.
“Gap” de informação
Um dos principais desafios do projeto é a escassez de dados primários (coletados diretamente pelos pesquisadores e com a finalidade adequada à pesquisa em curso) sobre saúde mental no Brasil. “Os dados disponíveis atualmente nas bases a que temos acesso não são bons, e os indicadores são difíceis de construir”, explica a pesquisadora.
De Boni ressalta a relevância da pesquisa ao buscar preencher as lacunas de informações para subsidiar e fortalecer políticas públicas em Saúde Pública Digital. “Existe um ‘gap’ no tratamento de saúde mental no Brasil e no mundo. As pessoas têm ideia de que tratar saúde mental é fazer terapia, mas existem transtornos muito graves em que os pacientes também precisam de medicação, e eles não acessam o tratamento adequado por conta desse desconhecimento e da falta de dados”, afirma. “Ainda não foi construído um sistema que dê conta da demanda de saúde mental no país, então precisamos criá-lo e mostrar o que temos, o que falta e o que é bom e ruim para fortalecer a área e ajudar as pessoas que não têm acesso”.
Saúde mental é tema inédito na PCDaS
Habituada a abordar dados relacionados a diversos temas de saúde pública — como saúde materno-infantil e informações sobre deficiência — por meio de sua Rede de Parcerias, a equipe da PCDaS tratará dados de saúde mental pela primeira vez. “É fundamental termos um sistema de informação que disponibilize de maneira acessível para a população indicadores validados e confiáveis de saúde mental no Brasil, especialmente no contexto da COVID-19”, ressalta Rebecca Salles, cientista de dados responsável pelas atividades da parceria junto à PCDaS. “Já trabalhamos com tratamento e enriquecimento de grandes bases de dados, como SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade) e SINASC (Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos), e esta parceria é mais uma oportunidade de deixar nossa marca na saúde pública porque vai ser mais uma lacuna de informação que buscaremos resolver e com a qual poderemos contribuir”, completa.
Além de construir indicadores por meio de integração de bases já utilizadas e da criação de novas, as entregas da parceria contarão, na primeira fase das atividades, com painéis interativos para visualização direcionada das informações disponíveis. Em um segundo momento, quando os indicadores já estiverem validados e consolidados, a parceria produzirá análises a partir das informações levantadas e produzirá artigos e data papers para contribuir ainda mais com o conhecimento acadêmico.
Embora o projeto esteja em fase inicial — a equipe de pesquisadores realiza atualmente uma revisão bibliográfica para compreender como a saúde mental é avaliada no Brasil e em outros países —, De Boni já lista alguns indicadores que espera obter ao longo do trabalho. “Queremos saber, por exemplo, qual é o número de psiquiatras e o número de leitos psiquiátricos disponíveis por 100 mil habitantes, o tempo médio de hospitalização, os benefícios públicos concedidos por transtornos como depressão e alcoolismo, além de determinantes sociais que impactam na saúde mental”, explica. Os indicadores serão continuamente validados pela equipe multidisciplinar do projeto, que conta com estatísticos e psiquiatras para aprimorar os resultados.
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